POEMAS

 

A TERNURA DA INFÂNCIA

A ternura dos momentos que na memória,
não se apagam jamais.
Dos encantos que ao passado nos remete,
em pensamento, a infância viva se manterá.
Quão doces recordações!
As mais simples, impossíveis de apagar...
Noites enluaradas, nas cantigas de roda,
meninas de mãos entrelaçadas, numa só voz a entoá-las.
E nas tardes de verão,
sempre a esperada visita do tio Joca.
Com mil e umas histórias pra contar!
Dos Contos de Fadas ao seu Lobão.
Era uma vez...
Num encanto, tal qual varinha de condão,
a bicharada saia da toca.
Era a nossa melhor diversão!
E antes de dormir, a tia Lili ensinava a rezar.
E lá do alto, o anjo a nos guardar.

Denise Moraes

 

AMANHECEU

Mais um dia de clamor.
Não há manhãs tristes,
há manhãs mal contempladas.
Amanhecer com o cantos dos pássaros,
é uma dádiva.

Agradeça e ore ao Senhor do tempo.
A palavra é o renovo.
Observe o céu, o romper do dia.
As nuvens, mesmo  acinzentadas,
são dignas de oração, porque existes.
Ore a Deus, ouça os cantos dos pássaros.

Gorjeiam na revoada e,
de flor em flor, exalam amor.

Denise Moraes

 

AS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS

As paneleiras de Goiabeiras
Modelam, com as próprias mãos
As panelas de barro, numa tradição
Passada de geração a geração.

Dão ritmo à forma
Fazem parte do cenário
A entreter-nos com a cena
Que é parte do cotidiano.

Sentadas no chão, ao lado do grande forno
Entoam uma canção
Fazendo do ofício uma maravilha
Produzem o artesanato típico da Ilha.

Com a palha salpicam água
E as panelas entre as fumaças flamam
Adentram em labaredas de fogo
Em um salto controlam as chamas.

Prontas as panelas, com muita arte
Enfeitam mesas e prateleiras
E fazem as moquecas famosas
Na terra que as torna tão charmosas.

Denise Moraes

 

BEIJA-FLOR

Nessa terra de mil encantos
tem canto das águas, que vem em forma de véus,
estendem-se sobre os vales e encantam a paisagem.

Cachoeiras e pássaros canoros, em sintonia,
Fazem ressoar no céu, mais linda melodia.

Do alto da montanha, todas as manhãs,
a igrejinha anuncia a sinuosa beleza do vale do Canaã.

E nessa terra abençoada, que ao Espírito Santo orgulha,
viveu um grande cientista que ao mundo a apresentou e exaltou.

As águas entoam seu canto de louvor.
As orquídeas se vestem de cores, e exalam, à distância, suave fragrância,
tal qual damas da noite, em vestes de sedas e organzas.

Hoje o beija-flor chora
por mais uma árvore que o homem decepou.
Perdeu seu ninho, sua moradia.

E num canto triste, clama:
Augusto Ruschi, Pai da Ecologia,
Roga por nós, por melhores dias!

Para que Santa Teresa, essa terra abençoada,
Seja por seus descendentes,
Eternamente preservada!

Denise Moraes & Maria Goreti Rocha

 

CHOVE!

Observo os arbustos, as floradas,
a paisagem campestre.
As montanhas verdejantes,
e os ipês, retocando e emoldurando a vista.

Toda estação é bem-vinda.
Colherei feliz, as primaveris.
Quantas mais flores, mais vida.
Atemorizam-me, as tempestades.

Foram tantas!
E do vento fui aprendiz.
Passei destemida.
Não vivi na quimera,
acumulei  vivências.
Como o vento, que desfaz marcas,
apaguei até cicatrizes.

Denise Moraes

 

CONFIDÊNCIA DA GLAMOUROSA POETISA

À nossa glamourosa poetisa  
que enobrece os heróis da Inconfidência.                         
E na casa Dos Contos em Ouro Preto, enfatiza
os sentimentos de liberdade das lutas dos heróis vividas.

Pagaram caro, perderam a vida
e nas noites frias das ruelas da Cidade
sentimos os seus fantasmas.
Numa entrega, sacrificaram pela Pátria, suas vidas.

Os heróis morrem...
Nas suas conquistas sobreviveram em Romanceiro da Inconfidência.
Uma homenagem da grande Cecília Meireles, a poetisa.

Denise Moraes

 

FELICIDADE
 
Fechei os olhos e imaginei:
Como teria de volta a felicidade.
Certo de reencontrá-la
quão tão solitário estava, e observei:
 
Na janela debruçado,
com o olhar no vazio, chorei.
Como será  a felicidade?
Aonde encontro o que sonhei?
 
Na rua, cada qual no seu mundo passa
Numa felicidade de um leva e traz
E eu aqui infeliz e inconformado
Vendo o tempo tão sagaz!
 
Cada um segue com tranquilidade
Parece-me que só a ele pertence
O que tanta falta me faz
Sinto que carrega consigo a felicidade.
 
Percebo em cada olhar risonho
Quero viver o sonho que acalantei
Por meu amor choro
Quero  de volta o amor que tanto esperei.

Denise Moraes

 

FRAGMENTOS DA INFÂNCIA

Remota em seus fragmentos
vivas lembranças.
No tempo,
sinto a fragrância...

Nas margens do rio
pisava sobre as pedrinhas
cortavam-me os pés, as pontiagudas
Águas correntes que entoavam uma canção.

Daqueles encantos naturais...
ficaram as lembranças.
Ao pensar no futuro
corta-me o coração.

Denise Moraes

 

LUA CHEIA

Imperdível espetáculo da natureza,
generosamente nos propicia essa visão.
Enche-nos os olhos a lua cheia.
Munida com a câmera, capturo-a.
Nesse céu de meu Deus,
suave é esse mistério...
De estrelas a lua seguindo
Na soturna imensidão.
O céu imensurável, não a subestima.
Misteriosa que é, lua cheia de lendas, de lindas noites,
de lua, de lua!
Iluminadas estão as ruas.

Denise Moraes

 

MAIS DE MEIO SÉCULO

Mais de meio século
E aqui estou, só agora percebi
Nem tudo percorri.

Mais de meio século
Só agora percebi
que o tempo passou
e vários caminhos percorri.

Dentre encantos e desencantos
percorri entre o céu e o solo.

Mais de meio século
Só agora percebi
que o tempo passou
E vários caminhos percorri.

Pelejando eu sobrevivi
entre o céu e o solo
E conheci um mundo de encantos.

Não contesto, já pedi colo
no anoitecer luzido
E descobri, que ainda não me percorri.

Denise Moraes

 

MEU QUERER

Você é o meu querer
Jamais imaginei tornar a acontecer
Em pensamentos soltos...
Envoltos no teu ser.

Sinto-me reviver
deixando aflorar
o que ora
imaginei naufragar.

De cálidas lembranças
ainda viverei...
não sei até quando
Só desejo esse presente, vivenciar.

Esse despertar, esse desejar...
Mostrou-me ainda, esse querer...
um querer de só te amar.

Denise Moraes

 

MINHA MÃE

Está nas mais singelas recordações.
Suas prendas ao cozer e bordar,
nossos delicados vestidos de cambraia de linho,
ponto paris, nervuras e  rendas  a ornar.

Era prazeroso vê-la  com fineza  se esmerar.
Na memória ficaram os poás,
e as esvoaçantes  saias de organdi.
Mãos de fada que alegravam nossos corações.

Na sua então calmaria... Percebia-se uma inquietude...
Sua mente estava além, muito além dali.
Absorta em seus pensamentos...
Pronunciava palavras... Estudem meninas...

Vestia-nos de daminhas  a anjinhos no altar.
Em  seus pensamentos, a educação  sempre em plenitude.
E o tempo... O brilho do seu sorriso ofuscou.
Quanto encanto na sua simplicidade.

Tão generoso e sublime,
o seu sorriso iluminado.
Assim, um dia, ele se guardou.

Denise Moraes

 

NAS ENTRELINHAS

Quanto eu tenho pra te dizer
Mas, já não há forças
não imponho o meu querer
Olhares que se dispersam
naufragando o meu ser.

Ilhada nesse mar de lágrimas
me sinto esmorecer
Todavia eu quero que entendas
E que saias com a certeza
Nesse seu silêncio... Sem uma resposta.

Decidi: Vá! Se vá!
E só assim poderei viver.
E sob o meu olhar cortante
Percebeste que já não era amado o bastante.

Denise Moraes

 

NATUREZA LIBERTA

Meu jardim recebe visitas
beija-flores, rolinhas e sabiás a gorjear.
Da janela ouço os cantos
Que espetáculo!

Ao me aproximar, eles batem asas, voam livres e logo voltam.
Suas asas parecem esvoaçantes saias de seda.
E me inspiro nessa liberdade da natureza.

Criar... Sonhar...

Mário Quintana me vem à mente:
“Plante árvores que eles vêm...”
— Que árvore trará o meu beija-flor, Quintana?

Um silêncio...
Responda!
Augusto Ruschi:
— No jardim, há colibris no ar! 

Denise Moraes

 

O FINGIDOR EM PESSOAS

Provaria ser o luso poeta um fingidor?
Revelou-se n'outros eus,
versos estes d'um sofredor.
Sofrimento ocultou de Zeus.

Em cada pessoa, havia um Pessoa.
Nos seus eus nas ruas, pensamento absorto...
A caminhar na boêmia Lisboa.
No olhar, ora imenso vazio, sempre vagou.

Assim seguia solitário e cabisbaixo,
o poeta do Porto.
O qual estiloso chapéu a catar ventos,
sua marca registrada o protegia do sombrio pôr do sol.

Denise Moraes

 

O MAR

Litoral Capixaba a despertar-me encantos mil.
Da infância vivida - inesquecíveis lembranças...
As brincadeiras nas praias d'um céu ensolarado e azulado.
Espumantes ondas a saltarmos n'um tempo sutil.

O mar...      
Cresci com a maresia,
ouvindo o marolar.
Magnitude que a natureza reverencia.

Infindáveis céu e mar.
Mistério este, que envolve o Atlântico.
Ah!... A brisa densa a nos embevecer,
planam aves e submergem animais marinhos.

Deslumbrante contemplação no ar.
Fascinante o cair da tarde, simples assim é esse viver...
Proporcionando sonhos e magia.
Em todos os cantos, o encanto.

Denise Moraes

 

O ROMANCE FOI FEITO PARA BRILHAR

O romance faz os olhos iluminar
O coração acelerar
Existe e faz o espírito renovar
Contagia e nos faz arfar.

O romance foi feito para brilhar
Num sintonizar das ondas do mar
E poderá naufragar, se a entrega não for total
Não se permitir enganar pelas ondas e o vendaval.

Os olhos podem acinzentar, e os laços desatar
O rumo e o brilho se perderá
Se um ao outro tentar ofuscar, não sobreviverá.

Denise Moraes

 

O TEMPO

Ah... o tempo!
Diante dos vendavais
não passou sombrio
Tornei - me plurais.

Arrisquei e me reinventei
E não o vi passar
Bem que tentei com intento
não mais sentir frio.

E me reinventei
Com o propósito de nunca lamentar
E nem mais, pronunciar meus ais.

Denise Moraes

 

OS VENTOS DA PAZ

Que nos ventos retornem
a tão esperada paz, ora recôndita
Que os bons tempos voltem
e a espalhem como encanto.

Que num leva e traz
leve a certeza desses desencantos
iluminando e energizando o ser precioso.
Retórico?

Que os ventos soprem a magia da paz
alimentando, acalantando esse ideal
e realizando esse aguardado sonho
Resgatando o ser humano original.

Devolvendo-nos o que há de tão valioso
que os ventos soprem e renovem
a magia da PAZ.

Denise Moraes

 

OUTUBRO ROSA

Anunciando o mês de outubro,
desabrocha a natureza feminina.

Ipês na cor rosa
adornam os campos
e comungam a vida.

Num contraste esfuziante,
mais glamour ganha o céu.
E rosa é a cor da hora.
 
Rosa e cerúleo,
cores provocando escarcéu.
Empolgante contraste!
Contemplamos a cena.
É a natureza,
que, ao alvorecer,
se entrega toda plena.
No céu azul, rosa, rosas.

O sol acena com seus raios.
A lua cintila ao entardecer,
a nos encher de amor:

Sobressaem os ipês rosa.
E tudo vibra na mesma cor.
Denise Moraes

 

PAQUETÁ

Ah!... Paquetá!
Paquetá dos romances
Paquetá de Joaquim Manuel de Macedo
da Moreninha...espevitada.

Paquetá das conversas descontraídas
dos rapazes almofadinhas e galantes
com apostas para conquistar a donzela
dos saraus, dos jantares, e das futilidades.

Ah!... Paquetá!
Quantos sonhos e olhares de relance
dos flertes, das reuniões e pessoas tão falantes
uma Ilha encantada.

Ah!...  a Ilha dos estudantes
das conchas, dos segredos dos indígenas.
Um romance a ocultar na areia do mar
na inocência da infância,

Nas promessas de amor adormecidas
mas, guardadas nas espumas das ondas.
Do pacto inesquecível de meninos
que só o tempo será capaz de desvendar.

Ah!... Paquetá!
Quem não se lembra da D. Leocádia
a alimentar os sonhos nas conversas alegres e arquitetadas
nas tardes, sob os caramanchões que exalam frescor e aroma?

No leva e traz das espumantes ondas
vem à tona o juramento de fidelidade
a troca do camafeu e da esmeralda.
Só poderia acontecer em Paquetá!

Denise Moraes

 

PETRICOR
Ao cair da noite,
da janela contemplo o céu.
Mesclado de nuvens negras e acinzentadas.
observo o jardim envolto num florido véu.

A brisa traz o Petricor.
As folhas e seus ramos se agitam,
formando gotículas iluminadas.
Efeitos que lembram cenas natalícias.

Que adentra a casa e seu arredor,
na sua essência sinto o cheiro de terra molhada.
Anunciando a chuva, o Petricor.

Denise Moraes

 

POEMA PARA MAYSA

E continua vislumbrante Maricá.
Celestial pedaço do Atlântico,
praia brasileira, lugar romântico,
a qual encanta, que outra igual não há.

De tranquilidade envolveu a linda musa.
Cantando o amor a desculpar-se da tristeza.
E, de mãos dadas com poesia às dúzias,
amor e desamor cantou quais rezas.

Desiludida, às angustias um regressar.
Resistente à solidão que sempre ronda.
Sufocada, é-lhe alento a brisa do mar.
E embriagada com espumante onda.

Uma entrega amorosa a sua voz,
dor e rancor nela havia, em tom maior,
tal qual a imensidão do mar, o sol ao pôr,
um barco ao léu do amar, a muitos nós.

Maysa "Moon" Jardim, apaixonante
nome que mais, trazido pela brisa,
ecoa. Montada em fictício Rocinante,
a colher avencas, viajando, ó quixote Maysa!

Que não permita nunca o amantíssimo Deus
para sempre da alma o silêncio profundo.
Deixai que cantem os seus tantos eus,
e ainda mais quando lhe cai, aos pés, o mundo.

Denise Moraes

 

PRIMAVERA

É primavera
teço uma tela
Pinto os frondosos ipês
que já estavam a minha espera.
Os pincéis, as tintas...
aguardavam a inspiração na quimera.

Os ipês amarelos
iluminam
ofuscam
e roubam a cena.
A cor amarela
sente-se a mais bela.
Envaidecida
causa fuzuês
ansiosa
para ter vida na tela.

Ganham vida os ipês amarelos,
reluzentes como ouro.

Ao desabrochar
seus cachos despontam
confundindo-se com o raiar do sol.
Iluminando a madrugada que adentra
umedecida pelo orvalho
o seu perfume vem exalar.

Silenciosa, chega a aurora!

Denise Moraes

 

QUANTO MISTÉRIO!

O homem já pisou na lua
e quanto mistério sobre a nossa procedência!

O homem rebelou-se
invocou os céus e a terra
Mas nada desvendou.
Quanto mistério!

Se nem sei d'onde vim...
Como saberei para onde vou?
Sinto-me envolta numa áurea
que atende-me nos momentos tépidos.

Que acalanta-me nas noites cruas
Quanto mistério!

Explique-me esse mistério
da vida pós vida
Da vida vivida...
Quanto mistério!

Denise Moraes

 

SILÊNCIO

Quando estou distraída
não estou olhando no vazio
nem solitária e perdida
Os pensamentos estão viajando...

Estou compondo a vida
Mergulhada na imensidão
de um rio profundo e límpido.
É de lá que saem meus versos.

E vou sonhando, sonhando...
Chamam-me de borboleta
Dizem que vivo voando
É que o pensamento fica disperso.

Em forma de versos,
logo eu desperto.

Denise Moraes

 

TOLA SEDUÇÃO

Entre ter os pés no chão
e ser uma a mais nesse vale fugaz
Mais vale se guiar pela razão
e fugir dessa vida nefasta que causa desorientação.

Saiba  se valorizar
E terás  a  dedução
Que vives de mãos vazias
Quão tola e vã é a sua sedução.

Sem ao menos saber se guiar
Acorda! Oh, entulho!
Desperta dessa devassidão!
Quantos pássaros cantaram
e voaram das suas bobas e inseguras mãos
E ainda vives nessa doentia desilusão.

Denise Moraes

 

VIANA

Reporto-me à infância sempre
Nas enluaradas noites de verão,
Ainda recordo-me, na memória afetiva tão recente,
sentávamos em frente ao antigo casarão.

Atentas às lendas, as quais a caseira contava.
Dona Hilda...
Lembro-me bem da sua grave voz.
Para nos entreter, mas também assustava.

Logo surgia uma pausa...
Ah!... O apito do trem,
ao som barulhento da máquina,
toda terra tremia.

Saltava um viajante, e seguia naquele breu da mata.
Os trilhos e os vaga-lumes a brilhar.
Assustadas? assustadas e encantadas com tanta vida no campo.
E no céu, as estrelas faziam festa, a constelação a inebriar.

A lua em forma de um lustre de cristal.
A iluminar aquele céu estrelado, feito castiçais de prata.
Quanta beleza! Dum tempo que não se apaga.
Ai de quem, nada disso viveu!

Denise Moraes

 

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